domingo, setembro 17, 2006

O Expresso do Sol

No passado sábado, e depois de muita expectativa, conhecemos o "Semanário Sol".
Como dizia, e bem, o agora director deste jornal, Arq.José António Saraiva, ainda há, ou havia, "espaço para um novo semanário em Portugal".
É uma verdade indiscutível. Portugal precisa cada vez mais de novidade na imprensa. De jornais que incentivem a livre opinião, abertos, livres, sérios, verdadeiros. Isto é, verdadeiramente democráticos.
Por esta razão, que para muitos pode ser romântica e utópica, esperava um "Sol" brilhante.
Contudo, defrontei-me, não com o que pensava que seria uma novidade, uma liberdade, uma nova forma de informar, mas com uma imitação, quase cópia ,do já velhinho Expresso. Com a mesma divisão, os mesmos títulos, os mesmos artigos, os mesmos cronistas, as mesmas pessoas: no fundo as mesmas opiniões!
Merecíamos mais...
Embora pareça desapropriado, ao ver este "Sol" lembrei-me de uma melancia...que transpira e vive para fora sob a bandeira verde da liberdade, mas que no fundo continua ancorado ao mais longínquo, triste e desajustado passado.
A melancia é muito mais do que um fruto que só raramente se come.É o retrato da sociedade em que vivemos.
Ao invés o Expresso desde a semana passada que se apresenta sob uma "new face". Uma necessidade. Apesar de, na forma, ainda não estar o que efectivamente se esperava, mudou. E penso até que mudou para melhor. Embora relativamente ao conteúdo possa estar, na minha opinião, mais cansativo.
Sem nos apercebermos, estamos perante uma verdadeira "guerra de forma" entre estes semanários, pena é que seja apenas na forma. Seria pois muito mais útil e necessário que esta se desviasse para o campo do conteúdo.
Mas o que efectivamente pode ser preocupante é a forma como os mesmos têm esgotado.
Desde da semana passada que tenho feito uma pesquisa por vários quiosques. Ao perguntar pelo Expresso a resposta foi sempre a mesma: "Esgotado".
Mas como?Porquê?
Na verdade sem o "SOl" o Expresso poucas vezes esgotava ao sábado, porque é que agora, havendo outro semanário, com uma tiragem de 130.000 exemplares ,ambos esgotam?
Será que os portugueses estão a viver a "febre dos semanários"? ou momentaneamente tomaram o gosto pela leitura e pela informação?
Não penso que seja nenhuma destas razões.
Esta situação acontece devido a uma política falsa e enganadora, um tipo de "dumping" fomentado pelo próprio jornal pois, embora não diminua a tiragem a que se obriga, apenas escoa para venda uma parte reduzida, esgotando virtualmente!
Mas porquê? O que ganham com isto?
Efectivamente com esta estratégia de esgotamento virtual consegue: Primeiro uma publicidade inversa, tal como nos refere a Lei da Oferta e da Procura, pois ao disponibilizarem menos exemplares do que os procurados, o valor útil da sua leitura aumenta. Todos o irão querer ter; Segundo para aumentar os preços da publicidade, âncora da sua existência; Terceiro como tentativa de bater a "novidade" da existência de um novo Semanário.
Embora não possa, desde já, levantar suspeitas sobre o facto do "Sol" também ter esgotado, nesta sua semana de estreia, espero que pelo menos ,neste campo, nao tente imitar o seu rival.
Pois se assim o fizer, ao contrário do que se espera, o único prejudicado será o leitor, que procura, quer, gosta e precisa de ser bem informado.
Talvez um dia possamos ter um "Expresso do Sol" pontual, certo e de confiança como o Expresso do Oriente...

7 comentários:

El-Gee disse...

é inteligente o comentário relativo ao valor de cada exemplar. nao tinha pensado nisso mas é bem verdade.

nao li o Sol (como tambem nao sou assíduo leitor do Expresso nem de nenhuma outra publicação), mas posso fazer um comentario genérico sobre o tema:

O jornal semanário é um produto que, pela sua natureza social, nao deverá apenas ser gerido por uma lógica de mercado, já que - à partida - deveria ser um espaço de debate. Aí concordo contigo quando dizes que faz(ia) falta mais um semanário de qualidade. porém, as empresas têm de gerar dinheiro, e há que tornar o negócio rentável - que é como dizer: há que tornar as opiniões rentáveis.

Portanto, a existência de semanários com artigos de opinião de qualidade depende do país onde se vendem: se o país quiser qualidade e estiver disposto a pagar por ela, o jornal vinga. Senão, das duas uma: ou o jornal morre, ou molda o seu conteúdo às Leis do Mercado (da Procura).

Nesse sentido, e num país com uma tradição de debate intelectual reduzida, para mais a braços com uma redução exponencial da leitura de jornais, não esperava do Sol uma lufada de ar fresco. Nao fiz as contas, mas espantar-me-ia que dois semanários co-existissem em debate no mercado português.

O Sol será, como não poderá deixar de ser, um Expresso renovado, com o objectivo de o substituir e não de o debater. Ou isso, ou morre.

Anónimo disse...

Bernardo,
Parabéns pela iniciativa! Calculo que o teu primeiro texto seja baseado naquele que fizeste para o Sol. Acho que tem ideias bastante interessantes, sendo essencial que antes de mais nada, se altere a lei do arrendamento e se arranje estacionamento. Quanto ao Sol, por acaso discordo. Acho que faz sentido começar com um formato parecido com o do Expresso para não chocar demasiado. Depois gostei da mistura entre o sério e o tabloid. Achei que havia bastantes artigos de jornalistas novos. Acima de tudo, o Expresso é um jornal sem alma, onde tudo se compra e tudo se vende.Para ser notícia não é preciso ter mérito, basta pagar. Até agora o Sol não dá mostras disso, o que já vale qualquer coisa. Por último, apesar de se afirmar como apartidário, parece-me que vai fazer uma boa oposição a este governo. Beijinhos e boa sorte!

Amarcord disse...

'El Sol' nace en Portugal para competir en el mercado de los semanales

EFE
LISBOA.- Un nuevo periódico semanal, 'El Sol', ha salido a la venta en busca del peculiar mercado informativo portugués de los sábados, en el que competirá sólo con el veterano 'Expreso' tras el reciente cierre de 'O Independente'.
Con formato de diario tabloide, dos euros de precio -casi el doble de los rotativos diarios- y 143 páginas impresas a color, el nuevo medio anunció, entre otros propósitos, el de ser incómodo pero no destructivo, claro pero no superficial y no parecer partidista pero tampoco apolítico (...)

http://www.elmundo.es/elmundo/2006/09/16/comunicacion/1158424938.html

Bernardo, ainda sobre o dossier Sol, encontrei esta notícia no El Mundo e não resisti... porque também estava à espera de mais.

Como já tinha comentado contigo, uma das coisas que mais me surpreendeu no Sol foi a sua proximidade com o conteúdo típico dos tablóides. Nisso, acho que se afasta, e mal, do Expresso.

Não me vou pôr aqui a dissertar sobre o esquema de encarnados escolhido para a secção "Mundo Real" nem sobre a (in)felicidade dos títulos, mas acho que até na parte dedicada à "Política & Sociedade" cede ao sensacionalismo a que só um jornal diário se pode dar ao luxo de se sujeitar, porque tem mesmo de sair das bancas até à hora de almoço. Sorte malvada ter um ciclo de vida de meia dúzia de horas.

Fiquei desiludida quando, logo na página 2, eis que nos surge Mª Filomena Mónica sem papas na língua: Santana diverte-a tanto como os palhaços e além disso é emocional e sexualmente imaturo (resta saber quem será o padrão a considerar... ela?! É bem provável. No seu "Bilhete de Identidade" - essa pérola biográfica recheada de erotismo - enumera e descreve a performance de uma vastidão de ex-amantes seus, para os quais mal chegam os dedos de um corpo humano. Proeza capaz de deixar qualquer portuguesa média de rastos), Soares tem uma faceta oculta de latin lover , Cavaco não passa de um coitadinho e Sócrates parece ser um óptimo naco quando sai do banho.

E assim se inaugura a secção de POLÍTICA de um jornal convicto a desbancar os 140.000 leitores do Expresso.

Mais, diz-se "(...) A socióloga não fala de sociologia, aponta o dedo aos defeitos (e qualidades) dos políticos (...)".

Ora bem, se os defeitos dos aludidos fossem (só) esses, ponham as culpas da crise todas no povo. Se as qualidades fossem apenas as que Miss Mónica regista, alguém vai ter de me explicar como é que entrámos na CEE, dotámos o país de infra-estruturas e até já parece que vamos ter TGV.

De facto, quando se fala do homem que, depois do 25 de Abril, nos safou do comunismo puro e duro, como tendo ar de gigolô, se afirma que o único político a conseguir até à data, 3 maiorias absolutas entre legislativas e presidenciais, não passa de uma porteirinha, e se hipotiza sobre a qualidade dos aributos físicos do actual PM em honra do qual se acendem agora todas as velinhas para ver se a coisa não passa de preta a preta escura, e se faz disso a primeira notícia da secção política da primeira edição de um semanário, dificilmente se conseguem cumprir as promessas feitas: um jornal claro mas não superficial, apartidário mas não apolítico, bla, bla, bla.

(Te garanto que procurei um must na carreira política do Santana mas a única coisa que me vem à cabeça é aquela imagem dele de lenço hippie ao pescoço no cruzeiro da Kapital, mas adiante...)

Cadê profundidade, frescura, criatividade? até o logotipo parece calcado de um Mirò.

Enfim, miss you Indy: aquilo sim eram capas de mestre, conteúdos picantes abordados da maneira certa, bem regados com um humor ácido bem ao estilo MEC e tudo com um lay out de bom gosto.

Com o Sol, das duas uma: ou deram o passo maior do que a perna na promoção e puseram a fasquia muito alta, ou cheira-me a flop.

Depois desta 1ª amostra e das cenas do próximo episódio (nunca vi um jornal a levantar o pano sobre aquilo que vai noticiar para a semana, mas confesso que Manuela Moura Guedes, Pinto da Costa e Souto Moura são nomes calientes) fico à espera para ver se o n.º 2 consegue remediar isto, afinal de contas toda a gente mete a pata na poça, até o Papa.

Senão, entre o Expresso e o Sol, venha o DVD à pala... ainda por cima agora, mesmo a calhar para aqueles domingos de outono sem praia nem sol.

柳 绅 龙 disse...

Caro Bernardo,
Tenho de admitir que ainda não lhe consegui por a mão em cima. Não por estar esgotado mas se calhar por nem ter tentado adquiri-lo já que teve pormenores que me deixaram pouco curioso. Começando pelo nome. O nome "sol" não me convence. Podem explicar me trinta por uma linha sobre a maneira como o jornal veio "iluminar" as nossas pobres mentes incultas-facto que provavelmente ligado aos semanários "antigos".
Um nome mono silábico para que nós, incultos, nos consigamos lembrar dele com facilidade. Porém a frase "Já leste o Sol esta semana?" será uma frase que dificilmente irei pronunciar, não acredito em astrologia e já não posso ver a Maia à frente.
O Sol ainda tem a grande surpresa de trazer um destacável igual aos de qualquer outro jornal com o fantástico nome de "tabu". Será com este suplemento que irão falar do que não se fala, irão fotografar o que não se mostra, irão abrir os olhos do povo português sobre a realidade do mundo que não é falada, pois é tabu. Sabem qual foi o maior destaque fotográfico das paginas centrais do tabu desta semana. A própria festa de lançamento do jornal!!! Venham ver a festa para qual não foram convidados! Aliás, ninguém foi já que houve uma falha da organização e os convites foram enviados na véspera da própria festa. Qualquer pessoa podia entrar, vejam lá que me chegaram a ligar para ir la ter e tirar partido de mais um "bar aberto" dos quais a nossa alta sociedade está tão afim. Sem mais comentários.

Muito antes de chegar este blog, já estavam espalhados pela cidade os mupis que anunciam a "tão desejada" chegada de um novo semanário. Sendo de Marketing interessei me mais pela campanha em si, partindo do Logotipo. Gostava de descobrir quem foi o artista que conseguiu convencer e ser pago por um logotipo que se situa a nível artístico entre um trabalho de casa que me lembro ter oferecido cheio de orgulho na altura com 5 anos ao meu pai, sem tirar nem pôr, e uma tentativa de réplica de desenho artisanal das Caraíbas ou Trópicos!!
Será este rascunho de tons pastel a imagem perfeita para um jornal que vem iluminar as mentes do nosso país? E quando descrevem o jornal nos mupis como "Alegre" ou encantam o slogan "Tudo fica mais claro com o Sol", pergunto aos meus botões em que agências andam eles a gastar fortunas para estes resultados.

Quanto ao mistério do esgotamento a resposta parece me ligada a dois factores:

No caso do Sol a curiosidade que leva os portugueses a ver o telejornal da TVI com tanta assiduidade também os levou a ir "espreitar" essa novidade. Num país em que todos se queixam de estarmos parados, qualquer novidade é bem vinda para animar os nossos dias.
Posso ainda relembrar o caso das revistas masculinas, inexistentes há coisa de 5, 6 anos atrás em Portugal e de repente apareceram 3 com a mesma formula. Muda a capa e siga para Bingo. Todas elas esgotaram nos seus primeiros números.

No caso do Expresso posso relembrar que tem apostado em técnicas de Marketing com brindes e afins. Este sábado o jornal vinha acompanhado do filme "Traffic" em dvd que foi galardoado com 4 Óscares dos quais melhor actor secundário e melhor realização. Pode não ser o factor decisivo mas teve o seu impacto nas vendas.
O expresso poderá ter beneficiado ainda com o lançamento do Sol já que a tendência para a comparação é inevitável da mesma maneira que me dá gozo ler tanto a Bola e o Record durante o verão para comparar as alegadas transferências milionários dos grandes que na maior parte dos casos não passam de especulação.

Sem mais assunto,

Sinceramente

Anónimo disse...

O que o amigo escreve como dumping nao tem nada a ver com dumping: venda abaixo do custo de produção mas tão somente baixar as tiragens para que não sobre stock.

Anónimo disse...

Adorava saber quem é o "Jorge". Todos os seus comentários são inúteis e demonstrativos da sua enorme ignorância.
Para fazer comentários destes mais vale ficar calado.
Para se comentar é preciso, pelo menos, ler os textos. No seu caso penso que terá de aprender a saber ler.
Concordo com este comentário. Embora pense que o Sol tem asas para poder voar bem alto. O comentário da Carolina tem alguma lógica...nao se poderia entrar a matar...mas admito que fiquei desiludo...e esta política possivelmente feita, como escrever o Bernardo, de simulação de venda de todos os exemplares da tiragens tem lógica, a ser verdade é uma vergonha. Jorge e não se trata de baixar tiragens a comparação com o "dumpping" é muito bem feita.
Tem é de se perceber...

m disse...

Sa cosa stavo pensando? Io stavo pensando una cosa molto triste, cioé che io, anche in una società più decente di questa, mi troverò sempre con una minoranza di persone. Ma non nel senso di quei film dove c'è un uomo e una donna che si odiano, si sbranano su un'isola deserta perché il regista non crede nelle persone. Io credo nelle persone, però non credo nella maggioranza delle persone. Mi sa che mi troverò sempre a mio agio e d'accordo con una minoranza...e quindi...

A meu ver, caro Bernardo, acho o seu texto demasiado permissivo e até com um travo ingénuamente optimista no que toca ao futuro de uma coisa tão mal parida como este tablóide mascarado de semanário - coxo no conteúdo, mas tão exuberante em todo o seu esplendor formal de... jornalinho colorido.

No entanto gosto da deliberada intenção de opinar, por si só. É, desde a invenção da democracia, um lugar pra deixar a inteligência respirar.
E gosto ainda de como enche tudo de futuros. Isso é preciso. Isso é o falta.
Parabéns pela iniciativa, força nisso!

Maria

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