segunda-feira, setembro 18, 2006

Baixa Pombalina

O tema da revitalização e repovoação da Baixa Pombalina é já uma questão recorrente na vida da cidade de Lisboa.
Muito se tem dito e alguns projectos foram apresentados. Mas hoje, tudo continua igual. Nada foi feito. Tudo não passa do papel ou de ideias.
É preciso uma política estruturante, definidora e clara para a zona histórica da cidade.
Porque penso que esta revitalização é uma necessidade indispensável para o desenvolvimento da cidade de Lisboa, depois de um intensivo estudo, análise e pesquisa, procurarei neste artigo dar mais valia ao problema. Apresentando soluções!
A revitalização que é precisa para a Baixa Lisboeta terá de consistir na elaboração de um Plano Multi-sectorial e abrangente.
Por isso, não poderão ser esquecidas cinco áreas, que julgo serem as principais, para uma séria, eficaz e estruturante revitalização da Baixa Lisboeta
1- Comércio
É precisa uma aposta clara no comércio.
Aqui não posso deixar de destacar algumas ideias reveladas pela Vereadora Maria José Nogueira Pinto, responsável pelo Gabinete para Revitalização da zona Baixa-Chiado (GRBC), ao Jornal de Negócios no dia 31 do mês de Maio.
Refere-se nesse artigo, que o projecto em estudo, ambiciona transformar a zona da Baixa-Chiado “num centro comercial a céu aberto dotado dos mesmo princípios de gestão de um centro comercial fechado”.
É certamente uma ideia inovadora que poderá contribuir para incentivar o comércio.
Mas é preciso ir mais longe.
Se o que se pretende é transformar esta zona específica num espaço comercial a céu aberto de forma a dar vida a esta área, será necessária, urgente e indispensável uma adaptação à lei do comércio, aumentando e estendendo as horas de funcionamento dos estabelecimentos comercias.
Os lojistas merecem e a cidade precisa duma zona forte e activamente comercial.
2- Habitação
Não podemos pensar numa revitalização da Baixa Lisboeta, sem que haja um repovoamento efectivo desta zona.
É indispensável uma aposta firme na habitação.
Segundo fonte do GRBC poderemos ter três vezes mais pessoas a viver nesta zona.
É necessário encontrar soluções de forma a atrair mais pessoas para a zona histórica da cidade.
Para este efeito, proponho cinco pontos que penso poderem contribuir para, de alguma forma, solucionar o problema da despovoação, atraindo mais pessoas:
- Uma forte e efectiva colaboração entre Câmara Municipal e IPPAR
- Aligeiramento dos procedimentos necessários relativos ao licenciamento de habitação de imóveis
- Criação de uma figura semelhante ao “Plano de urbanização da zona de intervenção da expo98” e respectiva “Sociedade de Reabilitação Urbana” (SRU), que já existe, com poderes exclusivos e necessários para promover a reabilitação, rápida e precisa.
- Forte e efectiva colaboração entre Câmara Municipal e Promotores interessados na revitalização da baixa.
- Facilidades de Estacionamento. Este é um problema crucial para a qualidade de vida das pessoas. Para este efeito a Câmara Municipal deveria avançar com 2 ou 3 silos em prédios centrais da Baixa mantendo a traça/fachada pombalina. Seria um bom começo!
Contudo, depois de uma análise feita nos últimos dias a questão da repovoação da Baixa Lisboeta não depende apenas da iniciativa privada. Há muitos promotores interessados em investir nesta zona da cidade. O problema está em não haver uma política clara e efectiva para a zona da Baixa e respectivas facilidades processuais.
3- Regresso de empresas de nome que funcionem como âncoras de repovoamento e animação diurna.
Para este efeito, penso que as soluções pensadas pelo “GRBC” são positivas. Segundo informações recolhidas junto do chefe de gabinete da Sra. Vereadora, o projecto que está a ser elaborado, assentará também, na criação de incentivos e outras soluções fazendo desta zona a mais desenvolvida tecnologicamente de todo o país.
Estas novidades, certamente serão mais valias, não só para as empresas que aí se venham a instalar, como para os moradores.
4- Mobilidade
É necessária uma grande aposta na mobilidade.
Embora o projecto liderado pela Sra. Vereadora, veja como indispensável uma limitação na circulação de automóveis na zona da Baixa, é necessário criar novas soluções relativamente à acessibilidade dos transportes públicos.
Não podemos continuar com uma rede de transportes públicos lenta e pouco eficaz.
5- Juventude
Quando falamos em revitalização de uma cidade, ou parte, não nos podemos esquecer dos jovens. Eles são fundamentais para a vida das cidades.
Embora o projecto em estudo, já referido, apresente algumas ideias no âmbito da juventude, como a criação de residências universitárias, bares e zonas específicas para jovens, penso que se poderá ir mais longe.
Na grande maioria das cidades europeias, a vida da zona histórica é resultado da presença de universidades.
Poderia, por isso, ser uma grande solução a passagem e instalação de algumas Universidades para os Palácios do Terreiro Paço, hoje ocupados por alguns Ministérios.
Desta forma, teríamos uma zona histórica renovada, viva e em sistemática actividade.
A revitalização da Baixa Lisboeta é fundamental!
Apenas espero, para o bem de todos os lisboetas, que este projecto seja concretizado e não fique na gaveta como tantos outros.

10 comentários:

Anónimo disse...

comércio, empresas, circulação, habitação...
E o lazer, o entertenimento, o desporto, o rio e a cultura....

Um abraço

Anónimo disse...

O ultimo ponto de relocalizar Universidades para a Baixa Pombalina parece bastante interessante. Penso que seria uma medida com uma relação custo eficácia bastante satisfatória

E uma vez que exista uma nova vida na Baixa, parece natural que surjam novos investimentos.

Um dos problemas com a Baixa é a actual lei do arrendamento, que permite que existam rendas de 5€, se não tocar aí tudo o resto continua inconsequente

Anónimo disse...

Amigo,

Venho então, com mais tempo, desenvolver o meu contributo fogaz que tanto te desiludiu.

Sendo a baixa da cidade de Lisboa uma zona histórica e extremamente agradável com prédios bonitos e ruas amplas (umas estreitas, mas não menos belas), virada para o rio e para si própria e bem no centro da cidade é o local ideal para... tudo!

Talvez seja esse o grande problema da Baixa. O excesso de potencialidades!

A minha intervenção vai no sentido de apontar outros factores que além do comércio, das empresas, da habitação, da circulação e das universidades... são tão ou mais importantes para uma zona que além de dever ser mais vivida por lisboetas e portugueses deve ser mais bem aproveitada para turismo.

Aposte-se então também no lazer e entertenimento, vire-se a baixa para o rio (Terreiro do Paço pedonal atá à água já!) dsenvolvam-se os desportos, nomeadamente os radicais, a cultura, as actividades para os mais velhos e para os mais jovens...

Do meu ponto de vista isso só se poderá alcançar com muita vontade politica (central).

Para terminar ficam os votos de que este blog cresça e tu e nós e os outros com ele...

Aceita todos os comentários e todos os contributos, mais ou menos elaborados...

um abraço,

El-Gee disse...

Nao querendo (de maneira nenhuma) ser provocador e destrutivo, ainda para mais tendo em conta que opiniões e vontade de renovar a cidade, como esta tua, são sempre benvindas, acho que o tema da baixa pombalina não é prioritário.

A baixa já funciona minimamente bem, há comércio, há vida, há hotéis, há escolas de línguas, há restaurantes, há policiamento, há vendedores de rua, há turismo, há gente na rua, há prédios arranjados (pelo menos por fora).

Eu primeiro policiava os subúrbios, limpava as fachadas sujas da cidade inteira, punha caixotes do lixo por todo o lado, investia num sistema de transportes públicos minimamente digno para quem não pode comprar carro. Fazia o mesmo com o sistema de recolha de lixo de Lisboa.

Depois, controlava a construção desenfreada de condomínios nos arredores da cidade e desindexava o orçamento dos municípios às receitas derivadas da construção.

A seguir, descriminalizava o Alvito, certas zonas de Alcântara e todas as zonas das novas avenidas.

Tapava todos os buracos da cidade, que indirectamente reduziriam os custos de manutenção dos desgraçados autocarros que vão naufragando pelas esburacadas estradas de Lisboa. Finalmente, plantava árvores onde houvesse lixo.

No final do mandato, construía algumas casas para os milhares de sem-abrigo e talvez investisse num museu de qualidade mundial.

Só depois me preocupava com a baixa pombalina. Mentira, havia uma coisa que eu fazia à baixa: tirava de lá os vendedores de haxixe descarados.

Fora isso, e apesar de discordar com o timing, penso que tu e a Maria José têm boas ideias.

Anónimo disse...

El gee - Claro que se fazia isso tudo ,mas o problema aqui é a baixa. Toda a gente reconhece esses problemas que apontaste. Não concordo contigo quando dizes que a baixa funciona minimamente bem. Concordo com o que disseste sobre os carochos que vendem Haxixe a descarada.

Lembro me de uma vez que estava la com a minha namorada e no espaço de 10 minutos três gajos com ar de romenos/ciganos pouco asseados tentaram me vender essa substancia.

Vicente - Concordo inteiramente com a tua opinião. Actualmente estou a morar no Rio de Janeiro e posso dizer que uma ciclovia na Avenida Vieria Souto ( Marginal Copacabana - Leblon ) faz maravilhas em dar vida aquela zona da Cidade.
Parece me que vocês estão a exigir demais do estado, como se de um momento para o outro o estado conseguisse injectar sangue novo na Baixa. Na minha modesta opinião o estado tem de criar condições para existir investimento privado, por isso é que defendo que a deslocação de pólos Universitários para a Baixa. Mais gente, mais circulação, mais dinheiro, mais investimento, mais cultura, mais desporto, mais Lisboa.

ps: Não é que a baixa não tenha movimento, mas não tem o movimento ideal, aquilo é só turistas.

El-Gee disse...

Msacavem,

dado que a Câmara detém uma restrição orçamental, eu creio que a Baixa deve ficar no fim das prioridades de investimento. É como as iluminações de Natal: tanto buraco nas ruas e anda-se a gastar dinheiro em iluminações. Quem não tem dinheiro, não tem vícios.

Como tal, antes de ter uma Lisboa limpa e segura, eu não mexia na baixa (a menos que houvesse dinheiro para tudo, que não há).

De resto, concordo contigo.

Anónimo disse...

Olá a todos e e especial ao BTP,

Gosto particularmente deste tema, ainda que não me tenha debruçado sobre ele o quanto gostaria, ainda assim arrisco um contributo..

A questão de fundo é a Lei do Arrendamento. As alterações da nova lei levam-me a pensar que tão cedo não vamos ter a Baixa Lisboeta que todos desejaríamos.

Ninguém mete um tostão seja em que imóvel for, se não conseguir "pay-back". Com retorno de duas ou três gerações, mais vale investir em floresta..

Não é admissível que não haja na nossa capital, em especial na Baixa Lisboeta, mercado imobiliário de luxo. Simplesmente não existe e deveria existir. Não sendo uma causa é a consequência da Baixa Lisboeta que temos. Evidencia bem a cidade que temos, repito.

Para que a CML tenha o retorno deste tipo de empreendimentos, tem de começar pelos detalhes. Não é preciso mais dinheiro, apenas brio e competência.

Como exemplo, está o lindíssimo terreiro do paço (como referiram, e bem, tem de ser aproveitado), ao pé do ministério das finanças, está a estação dos barcos e uma praça de táxis. O cheiro é indescritível de tão mau, "mijo" de centenas de pessoas (incluíndo taxistas), todos os dias. Continuando pelo campo das cebolas, subindo para alfama (percurso que centenas de turistas fazem todos os dias) este cartão de visita repete-se, apenas alterado por arrumadores/ladrões, espreitando vidros abertos e turistas desatentos.

Não é pedir projectos bem pensados, estruturados e com visão, não é pedir mudanças de fundo nos diversos orgãos e empresas autárquicas (que sendo precisos requerem "massa cinzenta" à altura...), é apenas cumprir os mínimos que uma cidade q não sendo rica, tem obrigação de ser asseada.

Não é um pormenor.

Um abraço

FBL

Anónimo disse...

So quero deixar um comentario a El Gee,para dizer que na Baixa nao ha vida, se acharmos que sim é porque nunca vimos o que eu considero uma cidade verdadeiramente com vida.
Digo isto porque estou em Erasmus, em Barcelona, e apesar de ja ter viajado por bastantes cidades da Europa nunca encontrei em nenhuma a vida em que aqui me perco!
Porque é que Lisboa nao ha de poder ser uma "Barcelona?". Porque esta longe, em quilometros e em euros. Porque sai caro, em tempo de viagem e em dinheiro. Ha que aproximar Portugal do resto da Europa. Quem ja fez inter rail sabe bem o tempo que se demora a sair de portugal e sabe que em metade do tempo se faz por exemplo Amsterdao-Paris.
Isto porque acho que e possivel criar em Lisboa um ciclo parecido ao que existe em Barcelona. E para isso e preciso comecar por algum lado. O ciclo de que falo é turistas que trazem artistas de rua, exposicoes, vendas nas ruas, todo tipo de variedades, que depois atraem turistas. Nao sei por onde comecou Barcelona visto que este ciclo me parece mesmo bem implementado mas acho que ha espaco e oportunidades para se conseguir implementar esta dinamica em Lisboa.

Anónimo disse...

Bernardo,

Parabéns pelo teu blog, acho realmente produtivo uma troca saudável de ideias sobre alguns temas que marcam a sociedade ou que nos marcam pessoalmente.

Sobre o tema deste artigo gostaria de dizer algumas palavras,

Como sabes estou num ramo que me permite ter uma visão do urbanismo inevitavelmente mais pessimista do que tu. Comentando o ponto que diz respeito ao comércio (porque não tenho tempo para mais) concordo contigo quando dizes que trazer as pessoas para a rua para um comércio a céu aberto dinamizava esta tão aclamada zona lisboeta mas, infelizmente, vivemos numa sociedade que se foi deseducando com o passar dos tempos. Vivemos em tempos que existem alguns grupos de actividade que gerem e orientam os investimentos no nosso país e, neste caso, em Lisboa. Falo te por num deles, que para mim é o mais forte de todos: o lobby do betão. Ora esta é uma questão que ouvimos muito falar e nem sempre pensamos bem no que quer dizer. Quando se fala em lobby do betão não se fala só em grandes prédios que assassinam espaços esteticamente evoluídos o que por si só já era muito grave, estamos também a falar num surgimento em massa de uma entidade que para mim amputa a vivência do ser humano como animal social que é, estou a falar dos centros comerciais. Para terem uma noção na grande Lisboa (incluindo Sintra e Cascais) temos cerca de 25!!!!! centros deste tipo, o que significa um total rendição das autarquias às grandes construtoras que lhes financiam as campanhas eleitorais. Este é um mero exemplo mas sem duvida uma explicação para a falência do pequeno comercio que tão desoladoramente se constata na rua do ouro, prata, etc…
O grande problema da classe politica é que cada vez menos se pensa no bem estar dos cidadãos se tal não tiver impacto mediático ou se não houver um imediato retorno financeiro dos investimentos efectuados.

Era necessário intervir através de iniciativas como disse o Vicente, desportos radicais, eventos culturais, etc… Porque não haver um dia chamado Festa da Música em Lisboa onde a cidade se transforme num enorme palco como se faz em Paris, porque não instituir uma “Nuit Blanche” onde todos os monumentos tivessem abertos de noite para as pessoas poderem apreciar a beleza que Lisboa tem, e o bom que é andar na rua numa noite de verão e partilhar esses momentos com quem se gosta…

Ficam as sugestões e a minha opinião sobre este tema

Abraços Fausto

Anónimo disse...

Nem de propósito...Leiam o DN de hoje dia 3.out.2006 sobre a proposta megalomana de reabilitação da baixa chiado. Se for para a frente passamos a ter uma cidade de TOP. abraços Fausto

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